Paulo Garcia
Foto: Paulo Garcia
Eleito aos 22 anos como deputado estadual mais jovem da legislatura que se iniciou em 2019, o deputado estadual santa-mariense Giuseppe Riesgo (Novo) conclui seu mandato de quatro anos no final de janeiro. Apesar de fazer 60% a mais de votos em 2022 do que no pleito de 2018, o parlamentar não conseguiu a reeleição. Como o Legislativo estadual entrou em recesso e retoma as atividades já com a posse da nova legislatura, 31 de janeiro, Giuseppe fez o discurso de despedida da Assembleia no final de dezembro. “Tropeços acontecem e por isso que digo: ‘me despeço do Parlamento gaúcho, mas isso não é um adeus da política’. Ainda tenho um dever a cumprir e sei que não é hora de desistir. Não é um tropeço que vai me derrubar. Voltarei melhor, maior e mais forte para entregar muito mais do que fiz nesta legislatura. Não podemos desistir”, afirmou o deputado, na oportunidade.
A seguir, confira a entrevista de Giuseppe à coluna em que faz uma avaliação do mandato e do desempenho do Novo nas eleições de 2022 e fala também do futuro:
Que balanço o senhor faz dos quatro anos de mandato?
Giuseppe Riesgo: Tivemos quatro anos bem produtivos, no meu entendimento. Obviamente que, dado o desprezo da maioria dos políticos por ideologias e pelo debate de ideias, o ambiente não foi dos mais amigáveis. E, em certa medida, nesse sentido, foi decepcionante. Para quem vem de fora da política – como eu –, encarar um Parlamento moroso e com uma miríade de incentivos difusos não foi fácil. Você consegue avanços lentos e precisa se adaptar rapidamente aos incentivos para que as pautas, que julga relevantes, progridam. Foi dessa adaptação que conseguimos importantes vitórias. No entanto, a política ordinária não deixa de ser decepcionante, nesse sentido.
Quais as principais iniciativas que o senhor destacaria desse período?
Giuseppe: Tivemos distintas vitórias. Creio que o movimento capitaneado pela nossa bancada contra o tarifaço foi o mais relevante de todos. Conseguimos mobilizar a sociedade civil contra um projeto que, apesar da roupagem moderna e revolucionária dada pelo governo Eduardo Leite (PSDB), na prática, era um aumento descarado de impostos. Era a consolidação do tarifaço, até então, temporário, do ICMS. Se hoje temos alíquotas mais razoáveis e equiparadas aos demais Estados da federação, não tenho dúvidas, é fruto do nosso trabalho combativo e, claro, do apoio dos mais diferentes setores da sociedade gaúcha. Além disso, desburocratizamos o ICMS para mais de 200 mil empresas. Derrubamos taxas ilegais do Detran e do ITCMD
Na atual legislatura, o senhor é o deputado mais jovem entre os 55 deputados, qual foi o maior aprendizado?
Giuseppe: Que a política não vive de ideias. Que os incentivos são outros e, geralmente, são poucos republicanos. Que o que move o Parlamento é a capacidade de grupos de interesse em se organizar e pressionar determinado partido ou grupo de deputados. E que, nesse sentido, a imensa maioria da população – que possui interesses difusos e não pode se organizar para fazer lobby junto ao parlamento –, fica desassistida e pagando essa conta. Foram essas pessoas que, essencialmente, procuramos representar na Assembleia Legislativa.
O senhor se elegeu com 16.224 votos em 2018 e, em 2022, fez 28.209, porém não conseguiu a reeleição. Seu colega de bancada, Fábio Ostermann, também não conseguiu conquistar cadeira na Câmara Federal. Qual é avaliação que o senhor faz desse desempenho?
Giuseppe: Inegavelmente, no todo, o desempenho do partido não foi bom. Diminuímos a nossa base de votação tanto para governador, quanto para deputado estadual e federal. No entanto, pessoalmente, creio que fiz uma votação relevante. Quase dobrei a votação em relação a 2018 e, acima de tudo, sinto uma incredulidade generalizada entre os meus eleitores com a minha não reeleição. Acho que essa surpresa é um reconhecimento pelo meu trabalho e isso me deixa extremamente feliz. A sensação é de dever cumprido, apesar do duro golpe que tomamos nessas eleições.
Esse resultado tem, então, relação com o desempenho geral do Novo em todo o país que reduziu a bancada na Câmara dos Deputados e não conseguiu atingir a cláusula de barreira?
Giuseppe: Na minha avaliação, sim. O cenário de polarização política nos atingiu em cheio e nós – a bem da verdade –, não soubemos reagir politicamente e nos posicionar de forma mais firme e contundente aos desmandos que vivemos na política nacional. O eleitor, provavelmente, percebeu esse titubeio político e, com razão, nos puniu nas urnas. É um aprendizado duro, mas temos que absorver, refletir e mudar.
Como será sua atuação política depois que o senhor encerrar o mandato?
Giuseppe: Refleti bastante se ficaria ou não na política e, hoje, sinto que meu ciclo ainda não acabou. Sou jovem. Acho que tenho muito a contribuir com as mudanças que tanto queremos e a vigilância que tanto necessitamos, essencialmente, com esse atual governo que acaba de assumir. Ainda não posso revelar o meu destino, mas posso afirmar que seguirei participando ativamente na política estadual e nacional, já a partir de fevereiro.
O Progressistas lhe convidou para concorrer pelo partido nas eleições de 2022 e o senhor não aceitou. O senhor continuará no Novo ou pode rever essa posição?
Guiseppe: Quando escolhi o Novo para concorrer, o fiz, justamente, por reconhecer no partido princípios e valores que me identifico fortemente. Nada disso mudou. O partido me acolheu. Tivemos um excelente resultado em 2018 e, de lá para cá, sofremos com conflitos internos e dificuldades de posicionamento político. Acho que lavamos muita roupa suja publicamente, mas creio que também aprendemos nessa caminhada. Estamos realizando uma grande transformação na governança do partido e creio que teremos um projeto forte, já para 2024. Respeito o Progressistas. Tenho amigos lá. É um partido de princípios e de grande valor aqui no RS, mas o Novo continua sendo o partido que tenho maior identificação ideológica, no momento. Não há razões para mudar os rumos partidários agora.
O senhor poderá concorrer à prefeitura em 2024?
Giuseppe: Essa pergunta é feita com uma certa recorrência, o que sinceramente me deixa muito grato e feliz. Ser visto como uma liderança orgânica e “de fora da política” muito me honra e, creio, é um reconhecimento da população santa-mariense pelo meu trabalho. No entanto, ainda não é o momento de pensar nisso. Primeiramente, precisamos organizar o Novo em Santa Maria, já para as próximas eleições. Quero participar ativamente desse processo. Creio que temos muito a contribuir com a cidade. Só depois disso é que definiremos minha participação política em 2024.